28 juin 2009

A vida em partes

Os “quase trinta”


é aos poucos que chegamos aos trinta. Temos a impressão de que ainda ontem fizemos vinte, ganhamos independência (pelo menos aquela independência « simbolica », imaginaria), pensamos em tudo o que fariamos da vida, agora que responderiamos por nos mesmos. Mas a verdade é que os trinta chegam aos poucos. Ja la pela metade dos vinte nos damos conta de que essa independência, essa responsabilidade de si mesmo, não depende apenas da idade « legal », os famosos « dezoito », ou « vinte e um ». Ela depende muito mais de uma outra questão, que até então não nos havia tomado o espirito, ocupado que estava com questões mais grandiosas… A independência financeira, eis a chave da liberdade! E de repente percebemos que alguma coisa se insinuou naquela idéia de ganhar o mundo, e de muda-lo, transformar o que achamos velho, conservador, criar novas soluções… reescrever a historia é uma ação que deve compartilhar espaço com a obrigação de ganhar a vida. E não necessariamente, mas majoritariamente, pagar as contas significa fazer alguma coisa chata, que não fazia parte dos planos dos « vinte ». é assim que começamos a chegar aos trinta. Certamente existe uma parcela de « graça » na responsabilidade : mobiliar a sala como bem se entende, lavar a louça quando da na telha, voltar de manhã, acordar de tarde, fazer uma festa, brigar com os vizinhos… enfim, essas mimicas da vida de adulto que construimos aos vinte anos.
O periodo sombrio não depende dos numeros… 27, 29… depende de cada um ; mas certamente ele um dia chega… é inevitavel. Cedo ou tarde passamos por aquela impressão de que tudo esta determinado para o resto da vida. Se aos vinte éramos capazes de fazer tudo, de ser o que bem entendêssemos, porque afinal o mundo nos pertencia, à nos, muito mais que à qualquer outra pessoa, aos « quase trinta » nada mais nos pertence. O mundo escorrega pelos dedos feito areia. Tudo parece determinado, estatistico, e de repente nem a historia não faz mais diferença; fazemos o que nossos pais faziam. Compromissos; um trabalho, um casamento, responsabilidades que não fazem muito sentido à luz daquela vontade de transformar a realidade ao redor. Passamos a nos contentar com pequenas alegrias, o par de sapatos que compramos, uma viagem de pacote… tornamo-nos pessoas confortaveis.
E eis que os “quase trinta” estão a um passo dos efetivos, tão esperados, e mais tarde indesejados « trinta ». E ai, o inesperado acontece : o mundo volta a ser mundo, uma realidade dinâmica, cheia de acontecimentos, de esperanças, de criações. Se passamos boa parte dos ultimos três anos nos perguntando « afinal, porque fazer alguma coisa, se tudo ja foi feito ? », revoluções, crianças, uma musica, um quadro, um livro… de repente uma vontade incessante nasce na parte de baixo do estômago, e à cada dia vai aumentando, subindo à garganta. Uma vontade de fazer tudo à nossa maneira.
De certa forma reecontramos a energia da independência. A vida tem dos seus compromissos, fato inegavel e quase necessario para se levar uma vida « em sociedade », ou melhor « nessa sociedade ». Mas surpreendentemente ela nos aparece sob outro contorno : a vida é material maleavel. Do alto de meus « quase e inegaveis trinta » penso que a vida é como uma massa de pão : a gente amassa, amassa, vira e revira para ela crescer.

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