Atualmente o
mundo parece um todo absurdo. Às
vezes me assalta uma sensação paralisante de saciedade, no limite da congestão.
Existe muito de tudo. Muito dinheiro, muita velocidade, muita imagem, muita
pobreza, muitas palavras, muitas pessoas. De maneira inquietante, me pergunto o
que signfica « estar em vida ». O que vale uma vida que não pode
fazer a diferença ? Para que serve acordar, comer, tomar banho, andar,
trabalhar, continuar procurando, esperando, se perguntando, fazendo, amando, se
arrependendo, se entristecendo ?
Mas
algo pequeno, e tão indiferente quanto tudo aquilo que produz uma vida qualquer,
encerra em si o poder de me atirar/lançar/jogar/projetar de volta à realidade
de maneira completa e absoluta. Essa pequena possibilidade incongruente e
paradoxal é a ficção. Como um pedaço de tronco à deriva na enchente, no qual o
afogado aposta a sua sobrevivência. A possibilidade continua de poder começar
uma nova história, contar fatos de maneiras diversas, fazer transparecer os sentimentos
através da combinação de imagens e palavras, criar personagens.
E
não por acaso a possibilidade da ficção também serve de motor à minha própria vida.
Afinal, uma quantidade importante de fatos « realizados » constrói a
história individual de cada um, e aquele que nos tornamos com o passar do
tempo. Mas a vida também é feita de futuro. O futuro é esse tempo indefinido e
desconhecido, onde reside uma grande quantidade de possibilidades. Não todas,
mas uma quantidade considerável de reviravoltas, de continuidade, de
imprevistos e acontecimentos inesperados. Possibilidades. O futuro é como o espaço-tempo
de uma história ainda não redigida.
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