Levantara com o gosto do sonho na
boca. Cumpriu todos os rituais matinais, tentando se concentrar na própria
existência. Mas pedaços de irrealidades e sensações vividas durante a noite cruzavam
os afazeres, insidiosos. Pequenos curto-circuitos, faíscas oníricas. Negava a veracidade
de tudo o que tinha “vivido” durante a noite, e no entanto tinha satisfação em
sentir as imagens que lhe acompanhavam nessa manhã.
Entre outros acontecimentos, tinha
este : o calor que o espaço imprimia no próprio corpo, as partículas flutuando
no ar feito vaga-lumes, a claridade amarelada do ambiente, tudo lhe levava a pensar
que aquele seria o lugar ideal para plantar o seu pé de abacate. Chegou até
mesmo a dizer em voz alta “esse lugar me parece perfeito”, e espantou-se com a
própria frase. A pequena semente, quase redonda, tinha dado lugar, ao longo dos
anos, a um enorme galho cheio de folhas verdes que só fazia crescer e já
alcançava o teto. Mas almejava mais. Ela é que não podia decidir-se em
plantá-lo em outro lugar. No vaso, ela levava o abacateiro para onde fosse.
Tinha também uma lembrança extremamente
agradável, saudosa, cheia de sentimentos que lhe preenchiam dos pés à cabeça. Uma
promessa incumprida, uma inquietação agradável, um amor.
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