24 décembre 2013

Medianamente

Há pessoas que decidem coisas importantes em nome das outras. Coisas que mudam a História ; a criação de um país, a orientação tecnológica, o desenrolar de uma revolução. Há pessoas que administram tanta riqueza, suficiente para alimentar um povo. Outras pessoas tem um papel fundamental como o de pisar na lua. Pessoas de engenho, singulares. Muitas não são fundamentais para a Humanidade, mas cumprem o papel social com destreza e brio. Mantém a ordem, permitem, curam, educam, julgam, criticam, fazem outras pessoas ganhar muito dinheiro, ganham muito dinheiro, ou ambos. Depois tem os artistas, que são pessoas à parte. Possuem o privilégio do dom, da estética, da expressão. Tem também todos aqueles que de uma maneira ou de outra são tocados e comunicam a fé, pessoas de Deus. Mas todas as outras pessoas, o que são ? Estão alí a preencher o cenário, são apenas coadjuvantes. Trabalham com o outro para que a vida pareça com aquilo que ela deve ser. A « população » ; a « massa » ; sinônimos infames para designar uma « amálgama pastosa de substâncias esmagádas». Tal é a definição daquilo que não se distingue nem se destaca. Por certo possuem vontades próprias, gostos, preferências, histórias individuais. Pequenas diferenças que não são mais do que opções « a », « b » et « c » num teste de multipla escolha. Particularidades que não chegam a se desgrudar de uma existência homogênea, e que não permitem o brilho e o êxito.

Penso, não sem um resquício de amargura, que sou uma dessas pessoas que preenchem o cenário da vida. Uma pessoa mediana. E quanto mais o tempo passa, mais árduo é o trabalho de fundamentar tal condição. O que bem pode contar uma pessoa mediana sobre sua vida, uma vez que estiver no leito de morte ? Como justifica a própria existência ? O lugar que seu corpo ocupou no espaço, a comida que consumiu, o suor que transpirou... Conta que nasceu, e que logo desaparecerá. Que foi um, entre muitos. Que amou, riu e chorou, sem mais. Nenhum drama veio pontuar a sua vida ; nada que a tornasse digna de ser contada. Nada além do devido de qualquer existência. Permeada de dessabores, crises e transposição. Uma ponta de transcendência, mas nenhuma grande revelação. Alguns momentos sublimes, alguma fé. Nada que se assemelhe a um destino. Finalmente, a pessoa mediana conta como desenrolou o fio do tempo que lhe foi outorgado. E à medida que conta a trivialidade que lhe foi própria, e que vê que quase não lhe sobra mais fio, deseja desesperadamente tornar a viver uma vida banal.

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