Há
pessoas que decidem coisas importantes em nome das outras. Coisas que
mudam a História ; a criação de um país, a orientação
tecnológica, o desenrolar de uma revolução. Há pessoas que
administram tanta riqueza, suficiente para alimentar um povo. Outras
pessoas tem um papel fundamental como o de pisar na lua. Pessoas de
engenho, singulares. Muitas não são fundamentais para a Humanidade,
mas cumprem o papel social com destreza e brio. Mantém a ordem,
permitem, curam, educam, julgam, criticam, fazem outras pessoas
ganhar muito dinheiro, ganham muito dinheiro, ou ambos. Depois tem os
artistas, que são pessoas à parte. Possuem o privilégio do dom, da
estética, da expressão. Tem também todos aqueles que de uma
maneira ou de outra são tocados e comunicam a fé, pessoas de Deus.
Mas todas as outras pessoas, o que são ? Estão alí a
preencher o cenário, são apenas coadjuvantes. Trabalham com o outro
para que a vida pareça com aquilo que ela deve ser. A
« população » ; a « massa » ;
sinônimos infames para designar uma « amálgama pastosa de
substâncias esmagádas». Tal é a definição daquilo que não se
distingue nem se destaca. Por certo possuem vontades próprias,
gostos, preferências, histórias individuais. Pequenas diferenças
que não são mais do que opções « a », « b »
et « c » num teste de multipla escolha. Particularidades
que não chegam a se desgrudar de uma existência homogênea, e que
não permitem o brilho e o êxito.
Penso,
não sem um resquício de amargura, que sou uma dessas pessoas que
preenchem o cenário da vida. Uma pessoa mediana. E quanto mais o
tempo passa, mais árduo é o trabalho de fundamentar tal condição.
O que bem pode contar uma pessoa mediana sobre sua vida, uma vez que
estiver no leito de morte ? Como justifica a própria
existência ? O lugar que seu corpo ocupou no espaço, a comida
que consumiu, o suor que transpirou... Conta que nasceu, e que logo
desaparecerá. Que foi um, entre muitos. Que amou, riu e chorou, sem
mais. Nenhum drama veio pontuar a sua vida ; nada que a tornasse
digna de ser contada. Nada além do devido de qualquer existência.
Permeada de dessabores, crises e transposição. Uma ponta de
transcendência, mas nenhuma grande revelação. Alguns momentos
sublimes, alguma fé. Nada que se assemelhe a um destino. Finalmente,
a pessoa mediana conta como desenrolou o fio do tempo que lhe foi
outorgado. E à medida que conta a trivialidade que lhe foi própria,
e que vê que quase não lhe sobra mais fio, deseja desesperadamente
tornar a viver uma vida banal.
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