08 décembre 2013

Olho no rélógio e penso : « uma hora ainda me pertence ». Como se pudesse segurar o tempo com as mãos. Nesse amontoado de intimidade e considerações, palavras jogadas como um tule sob o abajur, impressões sem fim nem começo, nenhuma lógica, nenhum sentido, nenhuma objetividade. Em meio a considerações desimportantes et rebarbativas de uma individualidade que erra pela Terra, surge a lembrança do meu broto de abacate. Durante um longo período foi apenas um caroço de forma arredondada, sem perfeição. Era marrom, sem convicção. Vivia num copo cheio de água amarelada. Ele era uma existência insignificante assim como a minha. Mas um dia, sem sol, sem luar, sem festividades, algo surgiu de dentro de sua fenda escura e sem propósito. Como se renascesse de sua própria ferida. E porque ainda havia de ter esperança – uma ponta, um suspiro, uma gota, um milésimo – transformou-se numa segunda existência. Como uma segunda chance. Cresceu. Verde, imponente, cheio de suspeitas e de minúsculos desvios que mais tarde se tornaram folhas. Da última vez que o ví pude admirar o transluzir de um raio de sol sob suas folhas. Um verdadeiro espetáculo. Uma singularidade em meio a tantas outras existências.

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