A vida é uma composição de barulhos. O
barulho do metrô, correndo nos trilhos e das portas que se abrem. O barulho das
crianças de manhã, choramingando, brincando e brigando. O barulho da cafeteira
passando o café. O barulho das teclas do computador, da respiração do
outro quando dorme. O barulho do despertador, muito cedo. O barulho do jornal
das oito, anunciando notícias que ninguém ouve. O barulho do prazer, das
páginas do livro que se sucedem com maior ou menor rapidez, dependendo da
sutileza e da artimanha do autor, assim que da sensibilidade da alma. O barulho
da caneta no papel, e do ponto final. O barulho do estômago vazio, e da barriga
cheia. O barulho das 21
horas da noite, cheias de vida e de possibilidades. O barulho das quatro horas
da manhã, hora inexistente onde qualquer indício de vida se anuncia como morte.
O barulho dos lugares cheios de pessoas dizendo « humanidade ». O
barulho da chuva, de dia feito pra ficar em casa. O barulho de uma língua
estrangeira, « vasto mundo, imensidão ». O barulho do campo que é
barulho de verde e extensão. O barulho da pomba : cidade. O barulho do
instrumento do dentista. O barulho da furadeira; fúria. O barulho do patio da escolar
que diz “infância”. O barulho do silêncio dos mortos.
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