13 avril 2014

Acordando

A vida é uma composição de barulhos. O barulho do metrô, correndo nos trilhos e das portas que se abrem. O barulho das crianças de manhã, choramingando, brincando e brigando. O barulho da cafeteira passando o café. O barulho das teclas do computador, da respiração do outro quando dorme. O barulho do despertador, muito cedo. O barulho do jornal das oito, anunciando notícias que ninguém ouve. O barulho do prazer, das páginas do livro que se sucedem com maior ou menor rapidez, dependendo da sutileza e da artimanha do autor, assim que da sensibilidade da alma. O barulho da caneta no papel, e do ponto final. O barulho do estômago vazio, e da barriga cheia. O barulho das 21 horas da noite, cheias de vida e de possibilidades. O barulho das quatro horas da manhã, hora inexistente onde qualquer indício de vida se anuncia como morte. O barulho dos lugares cheios de pessoas dizendo « humanidade ». O barulho da chuva, de dia feito pra ficar em casa. O barulho de uma língua estrangeira, « vasto mundo, imensidão ». O barulho do campo que é barulho de verde e extensão. O barulho da pomba : cidade. O barulho do instrumento do dentista. O barulho da furadeira; fúria. O barulho do patio da escolar que diz “infância”. O barulho do silêncio dos mortos.  

Aucun commentaire: