Esse
sentimento de isolamento, de desencaixe. Os fatos seguem acontecendo,
e eu, assim, desconjunta. Às vezes me sinto papel contact. Papel
manteiga. E os traços de minha existência coincidem exatamente com
os fatos. Uma linha sob a outra. Mas às vezes, sem nenhuma razão
aparente, é como se eu desviasse de mim. A alma toma outro rumo. Ela
viaja por recantos, experimentando sensações estranhas e
instigantes.
Quando
meu traçar coincide com a realidade, é como se eu fosse completa.
Nada transborda, eu não me derramo, e se o meu contorno vai além,
assim também vai a existência. Me sinto plena sem vazão, me sinto
« vida », me sinto « ação ». Mas por vezes,
ou por descuido, ou porque à alma não existe exceção, é como se
eu desviasse do meu curso, como se descolasse de minha dimensão.
E de repente não me reconheço, me pego sendo outra, observando tudo
do alto, ou do avesso.
E
assim sigo, de uma à outra condição, até que o dia chegue ao fim,
até que a existência se desprenda de mim, até que eu não seja
mais, em nenhuma situação.
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