Vivo
o dia-a-dia, mas é como se construísse, de antemão, minhas futuras
lembranças. Sei que vivencio esses momentos únicos na banalidade do
cotidiano. Daqui a dez, vinte anos, me farão falta. Já me fazem
falta. A correria, a resistência, (o sair de casa, a refeição, o
banho, o sábado de manhã), a sucessão de aspereza e afeição, o
cansaço da vida à quatro, a falta de tempo da vida à dois. A
saudade desse tempo em que não tínhamos tempo de ir ao cinema,
sentar para ler o jornal no começo de um domingo. Você e eu sabemos
que o tempo não se repete ; hemos de aproximar-nos da realidade
mais completa, apesar das broncas e impaciências, esperançosos em
guardar uma suspeita de plenitude. É isso também que torna tudo
prazerozo : o fato de eu e você sabermos que a melancolia
desses dias nunca está muito longe. O fato de compartilharmos os
momentos, e a consciência dos momentos.
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