Colo o
meu ouvido no pequeno amplificador do rádio de pilha. As melodias, umas
seguidas das outras, me transportam à outro lugar. Um espaço inexistente.
Extremamente agradável, cheio de sentimentos e potencialidades. Tudo, e tanto,
que sinto meu peito se encher daquilo que é invisível, e incomensurável. Parece
até que está “a ponto de”, aproximando-se perigosamente do instante que
antecede a fragmentação. Essas canções, reminicências, há muito grudadas nas paredes
dos filamentos musculares, confundem-se nas notas lançadas pelo rádio, e libertam-se
de um sono profundo, pairando nos corredores do meu próprio corpo. Acordam
outras lembranças : da terra, do amor, das sinuosidades e reviravoltas. Através
do gesto trivial (ligar o rádio de pilha), me transformo num bocal repleto de memória,
prestes a transbordar esparramando-a no presente.
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