O calor
surge, me pegando desavisada. O casaco que retiro do corpo torna-se chumbo. Um
entulho nas mãos, que entrava a minha liberdade. O peso das coisas, assim como
o resto da realidade, encerra a própria verdade nas circunstâncias. Fosse a
paisagem diferente, camadas de neve cobrindo o asfalto, resfriando os corrimões
de ferro, o vento mordendo tudo o que encontra pelo caminho, esse mesmo casaco
que seguro como se tivesse nas mãos um bicho morto, seria para mim, como uma
segunda pele. Desejaria ardentemente – desejo bem cabido, devido ao contraste
entre a temperatura ambiente e qualquer derivado da palavra ardor - que fosse
realmente uma carcaça, pra me enfiar dentro dela feito verme.
Como já
se disse do peso da existência : sutil, aérea, mas insustentável. Ou
insuportável, dependendo dos óculos.
Aucun commentaire:
Enregistrer un commentaire