24 juin 2016

O peso das coisas I

O calor surge, me pegando desavisada. O casaco que retiro do corpo torna-se chumbo. Um entulho nas mãos, que entrava a minha liberdade. O peso das coisas, assim como o resto da realidade, encerra a própria verdade nas circunstâncias. Fosse a paisagem diferente, camadas de neve cobrindo o asfalto, resfriando os corrimões de ferro, o vento mordendo tudo o que encontra pelo caminho, esse mesmo casaco que seguro como se tivesse nas mãos um bicho morto, seria para mim, como uma segunda pele. Desejaria ardentemente – desejo bem cabido, devido ao contraste entre a temperatura ambiente e qualquer derivado da palavra ardor - que fosse realmente uma carcaça, pra me enfiar dentro dela feito verme.

Como já se disse do peso da existência : sutil, aérea, mas insustentável. Ou insuportável, dependendo dos óculos.  

Aucun commentaire: