Gostaria de contar o
mundo, maior do que ele parece. Porque aquilo que aparece, fatos vividos pelos
outros, por mim, não passam de um pedaço do mundo. Ele também contém possibilidades
: esses elementos inexistentes escondidos nas cabeças e nas almas. As coisas
estão aí, e ainda não estão. As coisas são vividas, ou não. É disso que trata o
mundo.
Me interessa saber
como tomam forma. As coisas aí já postas, e as outras.
Traços de desenho.
Imagens feitas de cores. Frequências sonoras, oscilação das moléculas de ar. Corpos
físicos, quentes. Movimentos de maquinário. Os 0 e os 1. Intuições etéreas. Impressões
passageiras, ou fossilizadas na rocha. Palavras.
O fio da escrita :
símbolos seguidos uns dos outros, dando forma. Se não é extraordinário... Leio “vagarosamente”;
uma languidez agradável escorrega pelos meus braços e pernas, pelos meus pêlos,
até a ponta dos fios do cabelo. Leio “estelar”; meteóros se entrechocam num
espaço vazio, silencioso, a velocidade da luz avança o tempo de maneira
inalcançável, o buraco negro acelera o movimento, o começo e o fim. Leio “iminência”;
a realidade é essa que estou vendo, sem poder tê-la nas mãos. Leio “escrever”; empilho
plumas umas sob as outras, tentando manter um equilíbrio frágil. O que exatamente
eu tinha pra dizer?
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