02 juin 2018

Gostaria de contar o mundo, maior do que ele parece. Porque aquilo que aparece, fatos vividos pelos outros, por mim, não passam de um pedaço do mundo. Ele também contém possibilidades : esses elementos inexistentes escondidos nas cabeças e nas almas. As coisas estão aí, e ainda não estão. As coisas são vividas, ou não. É disso que trata o mundo.
Me interessa saber como tomam forma. As coisas aí já postas, e as outras.
Traços de desenho. Imagens feitas de cores. Frequências sonoras, oscilação das moléculas de ar. Corpos físicos, quentes. Movimentos de maquinário. Os 0 e os 1. Intuições etéreas. Impressões passageiras, ou fossilizadas na rocha. Palavras.  
O fio da escrita : símbolos seguidos uns dos outros, dando forma. Se não é extraordinário... Leio “vagarosamente”; uma languidez agradável escorrega pelos meus braços e pernas, pelos meus pêlos, até a ponta dos fios do cabelo. Leio “estelar”; meteóros se entrechocam num espaço vazio, silencioso, a velocidade da luz avança o tempo de maneira inalcançável, o buraco negro acelera o movimento, o começo e o fim. Leio “iminência”; a realidade é essa que estou vendo, sem poder tê-la nas mãos. Leio “escrever”; empilho plumas umas sob as outras, tentando manter um equilíbrio frágil. O que exatamente eu tinha pra dizer?        

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