Acordou com a sensação de outro lugar. Levantou,
como se estivesse em casa. Era uma terça-feira, o sol tinha aparecido cedo. Continuou
os afazares, mas naquela manhã, dois sentimentos se opunham : a melancolia
desse outro lugar onde tinha passado a noite, e todo o amarelo à sua volta, lhe
chamando para o instante presente. Gostaria de estar num e noutro. Da escuridão
saíam formas e cheiros conhecidos, sensações antigas, certezas esquecidas. Ao
estar neste outro lugar, ficou com o corpo impresso de transcendência. Já não
era mais si mesma, já não tinha mais idade, o tempo era absoluto e inexistente.
Mas de onde estava, quando entre uma tarefa e outra aparecia no reflexo do
vidro, podia olhar pela janela e observar a luz que passeava pelas folhas, levada
pelo vento. Os insetos riscavam o ar, o calor fazia o silêncio, mas risadas
distantes e o bater de um sino faziam aparições esporádicas. Tinham
intensidade, e lhe traziam ao lugar ao qual pertencia. Tentou sentir os dois ao
mesmo tempo, mas temeu a neutralidade. Talvez um anulasse o outro. Se ao menos pudesse
escolher se encontrar neste outro lugar quando bem entendesse. Mas não sendo um
lugar específico, nada podia fazer para retornar. Apenas pelo acaso. Por isso
nessa mannhã de terça-feira relutava em deixar a melancolia da noite, para se
perder no fio cotidiano.
São apenas rascunhos... São palavras, porque a poesia é a única solução! São idéias que se rabiscam porque há de se querer algo mais do que apenas constar numa realidade. São desconsiderações porque não devemos nos levar completamente à sério.
23 juin 2022
Ambiguidade
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