Um dia, atravessando uma estrada arborizada, de
asfalto liso feito pista de avião, dei pela falta da garrafa térmica. Dentro do
carro, entre o condutor e o passageiro, dois porta-copos comportavam uma
espécie de imitação de um café americano famoso, feitos de plástico. Inúmeras
vezes bocas tinham sido queimadas com o líquido quente que saía do buraquinho.
Mas nada de respingos.
Naquela época cada garrafa térmica tinha sua
particularidade: algumas gordas, algumas altas, com torneira, com bico
retratável, ou feitas simplesmente com uma tampa em rosca. Tomar um café na
estrada implicava necessariamente movimentos cuidadosos, e sobretudo a
interação entre o condutor e o co-piloto. Um servia o café, o outro recuperava
a xícara de plástico com cuidado. A fumaça subia, o cheiro do café tomava o
carro.
Mas a garrafa térmica, como inúmeros outros
objetos produzidos no começo do século XX, não correspondia à fúria consumista
do périodo futuro. Um “cup” individual representa, num só carro, três objetos a
mais do que uma garrafa térmica. O pequeno porém é o lugar para colocá-los no
carro, às vezes feitos de apenas dois porta-copos. Mas aí está a sacada: quatro
“cups” dão lugar à novas opções, um porta copos trazeiro, um em cada porta, ou até
mesmo seis lugares entre o piloto e os passageiros, em se tratando desses
carros imensos que ocupam a metade da rua quando estacionados.
Nesse futuro desmedido a garrafa térmica não
tinha a menor chance.
Aucun commentaire:
Enregistrer un commentaire