De dentro do ônibus, o contorno do vidro
imprimia um quadro no céu. Não havia uma só nuvem. Apenas um ponto distante
destoava do azul. Parecia parado, apesar de não flutuar. Se mantinha suspenso
no ar à custa de algum esforço. De quando em quando batia rapidamente as asas. Depois,
como se a força do movimento alimentasse um dínamo, tornava-se de novo um ponto
imóvel no céu. Assim como, na água, batemos pernas e braços evitando o
afogamento.
As águias agem dessa maneira quando avistam uma
presa. Antes de mergulharem para alcançá-la, observam-na distantes, alto no céu
o suficiente para passarem desapercebidas. Mas aquele passarinho
definitivamente não era uma águia. O ônibus avançava lentamente, misturado aos
outros motores. De certo não avistava presa alguma, pelo menos não dessas
presas que lhe convém. E no entanto, ali se mantinha, um ponto fixo e em
movimento.
Dava a impressão que o tinham cravado no céu. Não
podia tomar outro rumo. Solitário, se dobrava à existência, tentando alguma
estabilidade.
O que bem podia observar do alto?
Talvez uma pessoa que olhava o céu, enquadrada
pela janela do ônibus, procurando por alguma instabilidade.
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