05 février 2024

Dia das mães

O florista dispunha os vasos da melhor maneira, era véspera de dia das mães, esperava ganhar mais do que no Natal. Se não fossem as duas camas, poderia buscar mais vasos no estoque. Não estando exatamente diante da loja, não tinha como ligar pra administradora. Sentiu um pequeno consolo ao ver a banca abrir. No dia em que o funcionário se atrasou, quase não vendeu. Tinha uma teoria, achava que o cheiro do café deixava as pessoas mais esperançosas. Até mesmo os que não bebiam café.  Viu um dos cobertores se mexer e soltou um palavrão. Ainda se ficassem quietos poderia ligar para o Samu, mas não tinha como, eles se virando de um lado pro outro. Pensou “eles” porque cobriam o corpo todo com as cobertas, até a cabeça, mas ultimamente vira também umas mulheres. Nos dias mais frios via de tudo. Até familia com criança bem pequena. Uma vez até um recém-nascido, parecia acabado de sair da barriga. Mas quando não fazia menos de 15, os outros sumiam e só sobravam os bêbados. Um ou outro maluco, mas a maioria bêbado. De manhã as pessoas deixavam pacotes de bolacha ou pão, mas eles não ligavam, mijavam ali mesmo perto da comida. Depois pegavam as coisas, juntavam tudo num saco e saíam por aí. Certamente em busca de bebida. Era isso o que faziam, dormiam e bebiam. Uma vez, na reunião da administradora, tinha dado a idéia de jogar gasolina. Não neles, no chão. Mas o dono da banca logo se indignou. Com que direito? Não era ele que vinha todos os dias, tinha um funcionário, e também as pessoas não deixavam de comprar um pacote de cigarros ou um café por causa das camas.

Um homem se aproximou da caixa registradora, com dois grandes vasos na mão. Disse que pagaria mais dois iguais. Certamente não eram para a mãe. Até tinha os que compravam flores para as esposas nessa época, mas quatro era muita coisa. O florista passou o cartão e foi buscar mais dois vasos no estoque. Quando voltou avistou o homem se aproximando da caixa registradora novamente, de mãos vazias. Ele tinha colocado um vaso do lado de cada um dos colchões, que ficavam um pouco mais distantes. Aguardou o florista lhe estender dois novos vasos. Dessa vez, colocou-os ao lado dos colchões vizinhos. Depois saiu em direção à catraca.

Pensando no dia das mães, o florista recuperou os vasos. Não sabendo onde colocá-los, jogou os vasos no lixo.  Só não podia deixá-los ali, dando a impressão que cada cama era uma cova, e que velavam mortos. 

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