23 décembre 2015

Seriação

Apenas um pequeno caderno, umas canetas, uma agenda e as chaves na mão. Parece que é assim que o tempo avança, invariavelmente colado à estes poucos objetos. Mais uma vez algumas palavras, outras, que repetem a mesma coisa numa variação finita de formulações. No fundo nada disso é muito importante. Nada fundamentalmente importante. Quanto mais envelheço, mais sinto cheiros familiares. Odores escondidos nas dobras abissais da alma. E quando surgem, de repente, numa esquina, num corredor de metrô, nem bem consigo distinguir aquilo à que fazem referência. São apenas sensações. Talvez não exista ligação real entre o cheiro que sinto, que penso vir de uma época em que eu era diferente, e essa época em que eu era outra pessoa. Apenas existem momentos atuais, e memórias inventadas. Apenas correntes elétricas e interações. Sensações; da realidade, do advir, da subjetividade, do transcendental.

Um ano, e a caneta continua a escorrer as mesmas palavras, reformuladas mas repetitivas, que tentam, de maneira por vezes poética, por vezes desajeitada, dar conta do surpreendente fato de existir. Quantas vezes já não repeti esta palavra a mim mesma, tentando me convencer de uma razão? A verdade é que a existência não passa de um passa-tempo nada mais ordinário. A consciência ordena impressões - interações que se apegam à subjetividade - através do sentimento do tempo, tradução do movimento. Nada é fruto de algo fundamental, ou razão maior. Mas o movimento é incontestavelmente existente. Me aferrarei nele para constar no advindo.
     

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