Apenas um
pequeno caderno, umas canetas, uma agenda e as chaves na mão. Parece que é
assim que o tempo avança, invariavelmente colado à estes poucos objetos. Mais
uma vez algumas palavras, outras, que repetem a mesma coisa numa variação
finita de formulações. No fundo nada disso é muito importante. Nada
fundamentalmente importante. Quanto mais envelheço, mais sinto cheiros familiares.
Odores escondidos nas dobras abissais da alma. E quando surgem, de repente,
numa esquina, num corredor de metrô, nem bem consigo distinguir aquilo à que
fazem referência. São apenas sensações. Talvez não exista ligação real entre o
cheiro que sinto, que penso vir de uma época em que eu era diferente, e essa
época em que eu era outra pessoa. Apenas existem momentos atuais, e memórias
inventadas. Apenas correntes elétricas e interações. Sensações; da realidade,
do advir, da subjetividade, do transcendental.
Um ano, e
a caneta continua a escorrer as mesmas palavras, reformuladas mas repetitivas,
que tentam, de maneira por vezes poética, por vezes desajeitada, dar conta do
surpreendente fato de existir. Quantas vezes já não repeti esta palavra a mim
mesma, tentando me convencer de uma razão? A verdade é que a existência não
passa de um passa-tempo nada mais ordinário. A consciência ordena impressões - interações
que se apegam à subjetividade - através do sentimento do tempo, tradução do
movimento. Nada é fruto de algo fundamental, ou razão maior. Mas o movimento é incontestavelmente
existente. Me aferrarei nele para constar no advindo.
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