O relógio
roda. A sala de paredes nuas, especialmente iluminada para a ocasião. Nada
parece quebrar a concentração. A inspiração demora a chegar. Como se fosse uma
sala de espera, o ambiente torna-se menos familiar. Por onde andará? Navegando
noutras almas. Horas de espera se transformam numa imobilidade sem nome. Interferência.
O barulho da televisão dá outra cara à sala; esta mesma sala que pouco antes
abrigaria o nascimento das palavras, o fantástico, o sublime, os acontecimentos,
a continuação. O barulho ocupa o espaço, como uma pessoa. O tempo parece não
servir a coisa alguma. Ele simplesmente passa, sem razão. O medo de desligar o
aparelho. E se nada acontecer, nunca? Se nenhuma palavra surgir, nenhuma
história? Apenas a ausência de algo que nem bem se pode explicar. Um vazio só. As
paredes da sala sobrevivendo ao movimento do relógio. Musas fazem reviravoltas no
telhado, mas as paredes, e o espaço, inalterados. Como se tivessem
personalidade, e vontades, e decidissem pela indiferença. De repente um rasgo :
algo cruza o ar. Nada que se vê, apenas um cisco que se materializa numa
afirmação. Nenhum milagre, ou luz divina, e nem fogos de artifício. Mas heis
que surge uma palavra, duas, e mais outras, e etc etc à correr pelas veredas de
papel. Faiscando por aqui e por alí, de maneira temerosa. Parece até que
intentam mais do que um mero fogo de palha.
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