22 mars 2017

Ambientalizar-se

Esta noite pulei de um precipício - qual a diferença entre um precipício e uma montanha? O precipício é o fim do caminho, e a montanha, tudo o que está antes de chegar ao fim do caminho? Enquanto caía, pensava: “é muito alto pra eu pular. Alí bem longe está o mar. Como vou fazer para aterrissar? De maneira profunda e dolorida? Vou me afogar?”. Imaginava o impacto do meu corpo na água. Devido à distância de onde saltara (dalgum ponto já imperceptível, ainda que a queda se desce de maneira suave) e da velocidade na qual caía, via o meu corpo esmagado pela água feito um pedaço de concreto que se desprende de suas cordas de aço numa construção. Mas não foi o que aconteceu. A longa distância percorrida e a suavidade da queda fizeram da força cinética (e não do meu próprio peso) um afago. Caí devagar, e ao entrar na água meio turva, não senti nem frio nem falta de ar. Apenas pensei : “aqui estou imersa num lugar que me é desconhecido, cuja textura agradável não é suficiente para apagar a suspeita”. Eis que avisto um corpo; um outro ser vivo se mexendo na turpitude. Não se aproxima, de maneira frontal. Se move de um lado para o outro. Eu sei o que é. Percebo mais um ao meu lado, mas ele logo desaparece para dar lugar ao primeiro tubarão, cuja cabeça é bem maior do que o corpo. Ação inconteste, ele vem em minha direção, se movimentando para a esquerda, para a direita, devagar. Antes que abra a boca, o meu medo é tamanho, que mesmo sabendo que se trata de um sonho, eu abro os olhos, forçados pelo pavor. Mas e se não me engolisse? Ou se, abocanhando eu toda, me levasse para dentro da sua barriga, onde não existiria mais espaço para a dúvida?          

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