Assim
funciona o meu instinto de sobrevivência. No momento seguinte ao drama, tento
desesperadamente encaixar o acontecido na organização da vida. Numa névoa de anestesia,
encontro argumentos, convergências, e me convenço de que o fato (que já começa
a traçar um caminho dolorido na alma) completa a vivência. O drama faz parte da
existência. Mas ao contrário da sabedoria popular, mais o tempo passa, e mais a
dor torna-se pronunciada. A lógica do fato se desfaz aos poucos, como se eu desmanchasse
uma blusa de lã. Apesar do conforto que me proporcionou durante um espaço de
tempo, a sua forma não convém mais ao meu corpo, ao meu volume. E uma vez toda
a blusa desfeita, o fio forma um emaranhado escuro no chão da alma. O fato
mostra-se completamente desprovido de fantasia ou invenção. Aquilo à que me
remete : o despropósito. A desrazão faz parte da existência. Fico eu com o monte
de nós no chão. Não sei o que fazer dele, não posso mais carregá-lo, nem
segurá-lo com as mãos. Fica alí, doendo dentro de mim durante um momento que
parece não ter fim.
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