06 décembre 2017

Auto-sustentação

Assim funciona o meu instinto de sobrevivência. No momento seguinte ao drama, tento desesperadamente encaixar o acontecido na organização da vida. Numa névoa de anestesia, encontro argumentos, convergências, e me convenço de que o fato (que já começa a traçar um caminho dolorido na alma) completa a vivência. O drama faz parte da existência. Mas ao contrário da sabedoria popular, mais o tempo passa, e mais a dor torna-se pronunciada. A lógica do fato se desfaz aos poucos, como se eu desmanchasse uma blusa de lã. Apesar do conforto que me proporcionou durante um espaço de tempo, a sua forma não convém mais ao meu corpo, ao meu volume. E uma vez toda a blusa desfeita, o fio forma um emaranhado escuro no chão da alma. O fato mostra-se completamente desprovido de fantasia ou invenção. Aquilo à que me remete : o despropósito. A desrazão faz parte da existência. Fico eu com o monte de nós no chão. Não sei o que fazer dele, não posso mais carregá-lo, nem segurá-lo com as mãos. Fica alí, doendo dentro de mim durante um momento que parece não ter fim.

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