As palavras, como as
fotos, já não tem mais nenhum mistério. É só aparecer uma sonância menos
familiar, uma grafia desconhecida, alguém corre para o telefone, e já anuncia o
significado. Não contente, lê uma anedota ou um exemplo. Ou até um artigo. Com
as fotos, a coisa é a mesma. Estão cheias de cores da década passada, ou
brilhantes, em marrom e branco, sem defeitos... Mas já não possuem o mistério
da revelação. Ou a leveza da espontaneidade.
As palavras e as
imagens estão fincadas. É cada vez mais difícil dar um passo no espaço desconhecido.
Usar o tempo para deixar surgir sensações, impressões, intuições, idéias. Eu
não lembro do ator daquele filme, mas o caminho que o meu pensamento vai percorrer,
buscando através de um papel conhecido uma feição, ou a sonoridade de um nome,
já é uma coisa em si. Pode ser que me venha à cabeça uma sala de cinema, aquela
na esquina de uma grande avenida, de entrada pequena e a fila na calçada. Na
parte de trás a saída dava para a rua de paralelepípedos, logo ao lado do
exaustor de um restaurante indiano. A noite sempre acontecia naquela rua cheia
de promessas. Andava por ela com uma descontração desconcertante. Aquela rua
era minha.
Volto para trás, no
momento em que tento lembrar do ator do filme. Alguém olha o telefone, diz o
nome dele. É um mero desconhecido. Fico sabendo dos filmes que fez, da cidade
onde nasceu, da sua idade, que tem dois filhos e que vive atualmente em...
passemos a outra coisa, qual o tempo para amanhã?
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