13 mars 2019

Antiquando

As palavras, como as fotos, já não tem mais nenhum mistério. É só aparecer uma sonância menos familiar, uma grafia desconhecida, alguém corre para o telefone, e já anuncia o significado. Não contente, lê uma anedota ou um exemplo. Ou até um artigo. Com as fotos, a coisa é a mesma. Estão cheias de cores da década passada, ou brilhantes, em marrom e branco, sem defeitos... Mas já não possuem o mistério da revelação. Ou a leveza da espontaneidade.
As palavras e as imagens estão fincadas. É cada vez mais difícil dar um passo no espaço desconhecido. Usar o tempo para deixar surgir sensações, impressões, intuições, idéias. Eu não lembro do ator daquele filme, mas o caminho que o meu pensamento vai percorrer, buscando através de um papel conhecido uma feição, ou a sonoridade de um nome, já é uma coisa em si. Pode ser que me venha à cabeça uma sala de cinema, aquela na esquina de uma grande avenida, de entrada pequena e a fila na calçada. Na parte de trás a saída dava para a rua de paralelepípedos, logo ao lado do exaustor de um restaurante indiano. A noite sempre acontecia naquela rua cheia de promessas. Andava por ela com uma descontração desconcertante. Aquela rua era minha.
Volto para trás, no momento em que tento lembrar do ator do filme. Alguém olha o telefone, diz o nome dele. É um mero desconhecido. Fico sabendo dos filmes que fez, da cidade onde nasceu, da sua idade, que tem dois filhos e que vive atualmente em... passemos a outra coisa, qual o tempo para amanhã?   

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