Estava
ali, empoleirado, pomposo. Observava, quieto, como se fosse gavião. Não se
sabia ao certo o que esperava, ou sobre o que rapinava, mas era só pose. Observado
de perto, não passava de uma pomba de cidade, feia e suja. Devia cagar pelos
cantos, porque cada um que lhe cruzava o caminho ficava com pena, deixava um
pouco de comida. Ele, porém, não se mexia. Chegava-se até a acreditar que fazia
parte da família das aves. Senão gavião, alguma ave de arribação. Ninguém
mexia, ninguém nem ligava. Nem o dono da padaria. O homem pomba ficava agachado
feito bicho na escada da porta lateral da padaria. Uns diziam que sentia frio,
aproveitava da quentura do forno. Outros, que dali podia tirar uns trocados, as
moedas de quem comprava o pão francês e pegava no batente. Dava umas 17 horas,
o homem se encolhia. Seu casaco usado, furaco, tornava-se pluma. Seus pés
desapareciam. Podia-se ver que possuía envergadura imponente. Da onde tirava
tanta pompa era um mistério. Miserável homem que dormia toda noite na mesma
esquina, envolto em sacos cheios de coisas, segurando um rádio de pilha sempre
ligado. Talvez servisse de companhia. Dentro dos sacos, só tralha. Nada que
fosse de uso cotidiano, nem que suprisse necessidades. Nem mesmo lembranças de
outra vida. Tralha, feito sucata, feito lixo. E se levava o que não prestava,
haveria de prestar, ele? Mas quando de relance se percebia a pose, naquele
momento em que se transformava no homem pomba, era de se considerar com muito
respeito.
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