O céu, generoso, toca a beira do mar. Pequenos
pontos, esporádicos, indicam o homem com nostalgia. O barulho incessante do mar
ocupa o espaço. A paisagem dá a impressão de momento, mas trata-se apenas de
uma impressão. Quando eu não deitar mais nesse chão, e mais nenhum homem se
manifestar no horizonte, e nenhuma impressão existir mais, o céu seguirá
tocando a linha da água. O silêncio é próprio do homem, e do espaço. Na Terra
preencherão a extensão ondas sonoras das ondas do mar.
Enterrar as vontades, ímpetos, gritos, inexperiências.
Tudo aquilo “inexistente” porque irreal, ainda não acontecido. Enterrar tudo
num buraco bem cavado, sujando as unhas de terra fresca, preta - nem o corte trará
de volta a aparência que tinham. Por certo são coisas irreais, mas não
irrealizáveis, que enterro. São cadáveres recém nascidos, filhos de
compromissos. E no momento do ritual apenas eu estarei presente, tentando me
assegurar da profundidade da cova, da quantidade de terra sob a parte de mim,
para sempre, irrealizada.
Prefiro compartilhar minhas fraquezas. E no
instante em que o faço, é como se apresentasse minha alma, sem artifícios.
Tenho para mim que as qualidades hão de saltar aos olhos daqueles que se
dispõem a me conhecer. E que os defeitos irromperão no momento inoportuno. Mas
as fraquezas, quase transparentes, se escondem facilmente atrás das cortinas,
debaixo do tapete, nos vãos das portas. Essa é a razão que me faz anunciá-las, aumentando
ligeiramente o tom da voz. Com isso busco dar maior nitidez à imagem desajustada
que pressinto, do belvedere interior. Contá-las aos outros é uma maneira de
expor. E assim o fazendo, é como se dissesse :
- Aí está tudo. Faça o que bem entender disso.
Aucun commentaire:
Enregistrer un commentaire