Gostaria de ter tido uma vocação. Assim, desde pequena, ou já adolescente, fazer com que as pessoas vissem em mim uma evidência. “Certamente não poderá fazer outra coisa da vida”; “seria infeliz se não pudesse...”; “não se sabe da onde surgiu, em casa ninguém pratica”... “Isso não se explica”. Mas as coisas não se deram dessa maneira. Tive, ao longo da vida, que experimentar e abandonar atividades. Não tendo achado a força necessária para afirmar a minha própria identidade numa forma precisa. A vida seguiu sendo uma sequência aleatória de erros e acertos.
Gostaria de ter tido um irmão gêmeo. Pois se para os outros a minha existência teria a mesma necessidade das demais, para o meu irmão gêmeo ela seria imprescindível. E a dele para mim. Assim, seríamos ao menos dois. Algumas vezes pensaríamos a mesma coisa, ao mesmo tempo, ou teríamos o mesmo sonho. De certo, no dia à dia, nossa vida seria ordinária, cada um vivendo a experiência singular da existência. Mas teríamos essa ficção para contar à nós mesmos, e nos consolaríamos assim.
Ainda mais imponente e improvável, eu poderia ter vivido um destino. Não se deve confundí-lo com a vocação. O destino conjuga todas as forças invisíveis, e não apenas um pequeno mistério. Está além de qualquer suposição, ou tendência. Imagino que ter a impressão de viver um destino (e não qualquer um), se aparenta à “descoberta” de uma nova teoria científica... As experiências passam a fazer sentido. Até aquelas doloridas, completamente esquecíveis, que constantemente insistem em reaparecer. As escolhas, antes erradas, tornam-se parte de uma grande explicação. E as certas se destacam, saliências de nosso sentimento mais íntimo e legítimo, que estávamos traçando o único caminho possível.
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