Com a chegada dos dias mais frios, um vazio se insinuou em mim. Talvez fosse assim com os outros, mas não diziam nada. Me falavam das folhas alaranjadas que caíam das árvores, das nuances de amarelo e marrom, possíveis de observar apenas nesse momento do ano. Eu não tinha olhos para as cores. A realidade tinha em mim o efeito inverso, olhava os galhos meio vazios, como se alguma coisa mágica tivesse deixado a árvore para trás. Algo tinha estado aqui, transformado a paisagem, e tinha ido embora.
Também sentia a ausência no meu corpo. Comia, como se não o tivesse feito durante dias a fio, numa tentativa de preencher o espaço. Comia avidamente, mas nada me trazia satisfação. Queria outra coisa, nada me alimentava verdadeiramente. No começo essa insaciedade me trouxe, de maneira inespedara, a sensação do infinito. Crescia dentro de mim um abismo. Se transformou no vácuo. Percebi que apenas aparentemente o infinito e o vácuo se opunham. Que na verdade, eles se assemelhavam à ponto de se sobreporem.
Tinha esquecido o que costumava fazer nesses dias. Saía de casa? Conseguia me divertir, uma vez ou outra? Os dias invernais me remetiam à fogueira, ao conforto de um lar, ao chocolate quente. Mas esses primeiros dias de frio (onde o vento, a chuva, o céu acinzentado, as manhãs escuras apareciam, como se existissem pela primeira vez) me desestabilizavam. Prometiam semanas sem futuro. Cada dia deveria ser vivido como se não houvesse mais nada depois. E ao invés dessa desesperança impregnar na vida um clima de “années folles”, ela apenas descoloria o dia, indicando que logo mais, depois da curva, havia um fim.
Mas as pessoas continuavam saindo às ruas, frequentando cinemas e restaurantes. Vestiam-se de um jeito diferente, fingiam conforto debaixo da blusa, do casaco. Usavam luvas, couro, gorros. Era difícil achar a boa medida vestimentária nessa época, o dia era uma sucessão de calor e frio. Nuns lugares, aquecimento e suor, noutros, um fio gelado insinuando-se pelas frestas. Eu estava certa de que fechavam os olhos diante da realidade. Faziam de conta que a satisfação do verão pertencia à eles, e não ao tempo. Iludiam-se. Mas aí, ao vê-los em movimento, em grupos, ocupando o espaço, inclinando-se em direção ao dia de amanhã, entendi algo particular. Agiam como as pessoas deviam agir em situações impostas. Como devem ter feito as pessoas durante a primeira, a segunda guerra. Como atualmente fazem as pessoas em cidades tomadas, destruídas, em lugares de seca, de enchente, de pobreza. Porque se assim não o fizerem, como farão?
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