Surpreendente o nome dado a tal fenômeno natural. Dizem que tais ondas, “criminosas”, surgem à qualquer momento, em qualquer lugar. Surpreendente o fato de serem imprevisíveis. O que bem pode escapar dos aparelhos e análises em se tratando da natureza? Quanto à humanidade, não, sabe-se bem que não há como prever aquilo que cada um, individualmente, encerra em si, e coletivamente, constrói. Vamos de um lado para o outro, num frenesi, tentando alcançar algo metafísico, ou apenas passando o tempo que nos foi imposto. Mas a natureza, por vezes original, nos parece conhecida. Mais, familiar. Se um terremoto acontece num ponto, numa certa latitude e longitude, isso se deve ao movimento de determinadas placas tectônicas. Medimos a intensidade do terremoto. Sabemos a possibilidade que tem de se repetir. Ainda que inexato, avançamos um período, um lapso de tempo, uma recorrência. Certamente alguns eventos nos pegam de surpresa, a erupção de um vulcão por exemplo. Mas o centro da Terra é muito profundo. Íntimo demais para que possa se tornar familiar. Outra história é a nossa relação com o oceano. Percorremos grandes extensões com diferentes embarcações, tiramos nosso alimento, nosso lazer, pensamos nele quando sentimos emoções fortes, dizemo-nos “submergidos”. Quando choramos, o gosto salgado nos transporta para essa grande e única imensidão. Conhecemos as correntes marítimas, a biodiversidade, o comprimento das ondas. Sabemos como se comporta a superfície e o fundo do mar. Como se formam os tsunamis. Pensamos a “dinâmica de fluídos”. Até a influência daquilo que é exterior, distante, a atração da Lua sob as águas. Mas essas ondas gigantescas, “criminosas”, parecem surgir do vazio, anulando tudo o que se encontra ao redor. Um monstro, uma lenda marítima. Tal fenômeno natural, surpreendentemente, se assemelha ainda mais à gente do que todo o resto do oceano. Imprevisível, surge, cresce, e engole a realidade sem causa ou razão fundamental.
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