Levantou a xícara com cuidado, o fio pendurado feito rabo. Sentiu o calor nos dedos e achou a sensação agradável. Fechou os olhos, a borda tocou o seu lábio inferior, a erva doce subiu-lhe pelas narinas. Lembrou da mãe, e dos dias de dor de barriga. Lembrou da infância, e de quando parou de acreditar no que sua mãe lhe dizia. Trocou o chá pela aspirina. Passou a pentear os próprios cabelos, escolher suas roupas, assistir outros programas na televisão, fechar a porta do quarto. Levava o carrinho de feira, mas não tinha mais tempo para um caldo de cana. Comia em horários dessincronizados.
Mais tarde, já sem
a obrigação da convivência, ligava três vezes por semana. Quando sua mãe lhe
fazia perguntas, respondia de maneira afável, mas insincera. Evitava as festas,
mas ajudava nas contas. Nas raras visitas, trazia um pedaço de bolo de nozes,
que sabia ser o seu preferido. Mas nunca comprava mais do que um pedaço.
Uma vez, a mãe já
morta, ficou muito doente. Ninguém pôde lhe dar um diagnóstico, mas ao visitar
um curandeiro da Amazônia, voltou sã. Depois de tantos anos tomando aspirina,
sentiu-se perdida... Pensou que a relação com a mãe, assim como sua doença,
tinha sido o resultado de anos e anos de alopatia.
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