Ainda podia-se dizer que o pequeno monumento no meio do terreno era, na verdade, uma placa comemorativa que um dia tinha designado o nome de alguém. Talvez fosse possivel decifrar algumas letras e números, antes pintados em vermelho. Mas o terreno, um pedaço de grama, estava rodeado por uma cerca, isolando a placa no meio do pequeno retângulo. Assim, quem passava pela rua podia até se dar conta que a placa encerrava uma mensagem, mas nada mais saía dali além da sensação de esquecimento. Colada a um pequeno pedestal, no meio da grama vazia, enterrava a homenagem que um dia tinha prestado.
Tratava-se de uma pena em dobro. Quem quer que
fosse que tivesse seu nome marcado na placa tinha desaparecido uma vez, e agora
desaparecia de novo. Duas vezes inexistente, essa segunda pena parecia ainda
maior do que a primeira. Uma coisa era morrer uma vez, todos conhecíamos
pessoas que se foram, e também nós desapareceríamos um dia. Mas o que sobrava
naquele pequeno gramado era mais melancólico do que a morte. Com nobre propósito,
tinham tido o cuidado de construir um monumento, de mantê-lo limpo e cortar a
grama, e de protegê-lo por uma cerca. Até que um dia não sobrou mais ninguém
para tomar conta dele. A visão da placa descuidada afundava o desconhecido num
espaço ainda mais indesejado que o esquecimento.
Sendo uma pessoa desaparecida, e uma vez conhecido
o meu próprio fim, gostaria de fazer parte de uma homenagem sem nome. Como o
túmulo do soldado desconhecido, por exemplo. Ali no pé do Arco do Triunfo, fica
permanentemente rodeado por flores, e recebe visitas todos os dias. Pessoas do
mundo inteiro tiram fotos dele. Sua chama, sempre em movimento, evoca milhares
de pessoas desaparecidas uma vez, mas presentes por certamente mais uns cem
anos. E estão juntas. Enquanto o nome no pedestal, enterrado e solitário, pena
em ser completamente esquecido, o soldado desconhecido se funde na massa e se
inscreve na memória. Ambos já não tem mais a forma que um dia tiveram, desagregaram-se
noutras composições químicas. Quando eu desaparecer, espero poder me fundir na
massa. Afinal, nossa individualidade só se mantém, e é homenageada, na memória
daqueles que tocamos.
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