Andava a
poucos passos à minha frente, eu logo a percebi, porque as pontas de seus
longos cadarços faziam um barulho quando batiam no chão. Eram de cor vinho,
enlaçados num par de tênis de couro. Dançavam. Iam para o alto e para os lados,
sem respeitar nenhuma regra aparente. Pareciam participar de alguma
comemoração. Logo me afligi. Andava decidida, e rapidamente. De tamanho desproporcional,
os fios aumentavam as chances da mulher pisar num deles com o pé oposto. Não
havia outra saída para a situação, toda a energia que usava para se movimentar participaria
à violência da queda.
Mas como era
possível que andasse tão certamente sem perceber que estavam desfeitos? Olhava
para o alto, sem tempo a perder. No entanto a situação era clara : dali a muito
pouco ocorreria o inevitável. E ainda assim, se não prestássemos atenção nos
seus pés, a mulher parecia intocável. Uma dessas pessoas que não se submete a
destino algum. Tive ganas de avisá-la “olhe bem, as coisas não são assim. Cedo
ou tarde todos acabamos nos curvando, todos acabamos cedendo. O melhor que tem
a fazer é suavizar a queda”. Mas ela continuava avançando.
Quando finalemente decidi abordá-la, já estava longe. Me surpreendi com a distância entre nós duas, e com o fato de ainda estar de pé. Os cadarços tinham se tornado invisíveis. Fiquei para trás da catraca, a admirar o feito.
Aucun commentaire:
Enregistrer un commentaire