17 juin 2023

Padaria

Hoje de manhã esquentei o pão no aparelho de misto quente. E como não se tratava do pão que temos o hábito de comprar, mas um pão de forma menor e mais branco, chamado “pão americano”, o cheiro do pão torrado misturado ao do café subindo pela cafeteira italiana me lembrou o Brasil. Mais precisamente, a padaria. Não era só a mistura dos dois cheiros, mas a sensação do dia quente entrando pela janela aberta. Talvez o pão americano tivesse mais açucar (penso isso porque se chama “americano”), e por isso o cheiro dele, torrado, fosse o mesmo que o cheiro do pão francês na chapa (chamado assim, ainda que provavelmente tenha a mesma quantidade de açucar). Faltava o barulho da louça batendo uma na outra, o burburinho que vem não se sabe da onde, o rádio e ou a tevê ligados, o arrancar do motor do ônibus, o céu já um pouco escuro de chuva, ou talvez seja a fumaça, ou o azulejo da padaria que é escuro, mas agradavelmente, porque quando se vive num país ensolarado, carecemos de sombra. Faltava também o vai-e-vem dos garçons atrás do balcão, e as palavras incompreensíveis que gritam quando fazem pedidos. E também o excesso de produtos, salames pendurados por fios, panetones industrializados, maionese Helmans, latas de leite condensado e chocolate em pó, fermento, e a vitrine cheia de pães, bolos, frios, salgadinhos, docinhos e sobremesas extremamente rosas ou amarelas. Também as frutas, abacaxis, maracujás para sucos e batidas, bananas, mamão e muita laranja. Porque não há padaria verdadeira sem o barulho do espremedor de laranjas. Também tem sacos e sacos de limão espalhados pelo estabelecimento. Estes sim, somente para caipirinhas, porque muito dificilmente alguém vai pedir limonada. E as garrafas de 51 que estão em algum lugar, talvez até mesmo aparentes, mas invisíveis aos olhos matinais, sobretudo com a mistura do cheiro de café e pão na chapa. E o dia, certamente quente, mas ainda agradável e com alguma promessa.     


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